Quem esteve no curso Introdução às Três Estruturas Psíquicas, pôde acompanhar a elaboração de que a neurose, a psicose e a perversão são, no limite, a forma que o psiquismo lida com o excesso pulsional e o desamparo primordial inerentes à condição humana. Isto é: o modo como ele se defende do Real.
A neurose é a estrutura central na teoria freudiana, caracterizada pelo mecanismo de recalque. Através do recalque, o neurótico busca proteger-se do transbordamento pulsional, ainda que muitas vezes às custas de sua própria autonomia e desejo. Dentro da neurose, há três manifestações distintas: a histeria, a obsessividade e as fobias. A histeria expressa os conflitos psíquicos por meio da conversão de afetos em sintomas corporais, usando o corpo como palco. A obsessividade se caracteriza por pensamentos compulsivos que aprisionam o sujeito em um ciclo de ruminações. Já a fobia elege objetos específicos de medo, evitando o confronto com ansiedades mais profundas. Apesar de suas particularidades, todas essas formações neuróticas buscam uma homeostase impossível entre o desejo e a realidade.
Em contraste, a psicose é marcada pela rejeição (foraclusão) da metáfora paterna, resultando em uma fragmentação da realidade e uma experiência psíquica esfarelada. Diferentemente da neurose, a defesa psicótica não opera pelo recalque, mas pela rejeição da ordem simbólica. Isso leva a fenômenos como alucinações e delírios, que são tentativas de reconstruir um senso de realidade. O psicótico vive sob a ameaça constante de transbordamento e perda de controle, sem um ponto de referência central, o que resulta em um Eu fragmentado e dificuldades em manter uma conexão estável com a realidade.
Por sua vez, a perversão é uma estrutura distinta, ligada à recusa da metáfora paterna e à negação da castração. O perverso busca aniquilar o Outro, transformando-o em um mero objeto para a satisfação de seu gozo narcísico. Ele sabe da existência da lei, mas tenta dar uma "volta" nela, realizando uma transgressão consciente. Essa posição de impostura e desafio à lei pode, por vezes, levar a situações ilegais. Diferentemente do neurótico, que se submete ao Nome do Pai, o perverso o desafia, recusando-se a reconhecer a falta no Outro e, consequentemente, a sua própria falta.
Apesar dessas distinções, é importante ressaltar que nenhuma estrutura é pura e cada psiquismo irá se organizar com alguma ênfase, mas nunca de forma totalitária. A psicanálise visa escutar essas nuances, buscando ampliar os horizontes e as possibilidades de cada singularidade, em vez de enquadrá-las em categorias rígidas. Afinal, a normalidade em psicanálise é o próprio desvio, já que a sexualidade humana é intrinsecamente versátil e desafiadora das normas morais.
Estes desdobramentos fazem parte do encontro “Psicanálise em 2025: 5 Ideias Fundamentais para a Prática Clínica”. Ele acontecerá ao vivo, no dia 18 de dezembro, às 20h30, no YouTube da Psicanálise Descolada. Nele, o professor Carlos Mario Alvarez estará ao vivo compartilhando aspectos essenciais que ele recolheu em mais de três décadas de trabalho analítico.
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