Não é óbvio o que seja o sexo. Tampouco o que seja a sexualidade. A Psicanálise construiu o seu conceito de Inconsciente levando em conta o fato de que o psiquismo humano tenta a todo instante obter prazer através do corpo ainda que esse prazer tenha que aprender a dar lugar ao princípio de realidade e, por isso, seja perseguido, proibido, rechaçado, escondido e transformado.
O inconsciente é um troçador. Ele goza fazendo brincadeiras e armadilhas, confundindo, no final das contas o que é ser e não ser, mulher e homem. A Psicanálise foi talvez, na era moderna, o primeiro discurso/prática à respeito da sexualidade que se quis não normativa e não patologizante. Ainda assim, a mesma Psicanálise tropeça em si própria e, por diversas vezes, tornou-se ela também objeto de sedução e manipulação acerca da diferença sexual. Nada difícil de explicar: qual discurso que, ao instituir-se não cede às forças do recalque?
Toda forma de tesão é real. Todo sintoma é uma forma de tesão. Logo, todo sintoma é uma inscrição do real que, por essa via, engendra uma certa realidade.
As realidades são negociáveis? Sim, sobretudo se o sexo é passível se ser atravessado pela palavra. As modalidades de gozo são arraigadas e fundam idiossincrasias mas nada impede de que bailem e se desfaçam para se recomporem alhures. Trabalho de vida. Trabalho de Psicanalista.
O psicanalista – estranho imbuído de um certo desejo de cura - a ele, cabe respeitar a dimensão de indecidibilidade própria do inconsciente. O espaço analítico é uma reserva onde se poderá fermentar o vinho da libido de maneira tal que se torne não só palatável, mas, com sorte, também, delicioso. A metáfora e a metonímia oscilam na frequência do inconsciente que não faz outra coisa senão tentar se repetir. Por isso repetimos os erros, os hábitos e as mesmas tolices. Isso até que, em um piscar de olhos ou , diferentemente, com árduo trabalho psíquico, consegue-se realocar a libido de maneira tal que o sofrimento ou a burrice do sintoma deem lugar ao gáudio afirmativo do corpo. Um corpo deliberadamente corporal, corporizador, corporante.
Sabe-se pouco sobre o sexo mas deseja-se demais em torno disto. As formas do Inconsciente são também as formas sexuais e aí, fantasias e posturas - histéricas e/ou perversas - são elementos que, uma vez em análise, possibilitam ao analisando melhor cadenciar sua prática. Prática sexual. Prática de vida.
Carlos Mario Alvarez
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