Borderline significa linha fronteiriça, linha de fronteira. O que é isso? Quando a gente sabe bem delimitar um objeto, a gente pode recortá-lo e destacá-lo.
Por exemplo: aqui eu tenho essa caneta (vou colocar a tampinha nela). Pois bem! Essa caneta tem os limites dela, aqui a gente está vendo as bordas. Ela tem tampa, ela pode abrir e fechar, ela tem uma cor, um código de barras, ela escreve, ela pode ser boa. Eu estou dando uma série de características desta e para esta caneta, e ela tem, notadamente, fronteiras. Isso constitui um território.
Já isso aqui é um caderno. Então, esse caderno aqui também tem fronteiras. Sua forma, o número de folhas, a capa mais grossa etc... E aí eu tenho uma coerência: aqui eu tenho canetas, tenho meus papéis, portanto, tenho a minha coerência.
Parece que as coisas obedecem a um entendimento no sentido do limite das formas. Ampliemos. Peguemos o sentido geográfico. Na América do Sul, lá eu tenho um tanto de países; tem o Brasil, que é o maior, territorialmente, e suas fronteiras com alguns países. Não tem fronteira com a China, por exemplo, mas tem com a Argentina, com o Uruguai. Lá na região fronteiriça do Brasil e Uruguai, por exemplo, tem os “marcos”. O que são os marcos? São elementos que definem a extensão dos territórios, um em relação ao outro.
Aí, tem duas questões: quando você está do lado de cá, você sabe que está no Brasil. Vamos lá para Santana do Livramento, que é a última cidadezinha, na fronteira; ela faz fronteira com Rivera, no Uruguai. Se você andar por ali, você vai ver os marcos (não tem arame farpado, digamos assim...), são pequenos postes. Aí, você fica brincando de passar de um lado para o outro: estou no Brasil, estou no Uruguai, estou no Brasil, estou no Uruguai... Para cada país existem determinadas normas e regulamentos legais. Estando na Argentina ou no Uruguai, tanto faz... Mas quando a pessoa está no meio, no marco, na própria delimitação, ela está onde? E quando você não tem a menor ideia de onde ficam esses marcos? E quando ela quer brincar de trocar os marcos? (ou parece que andaram fazendo isso com elas?)
Esqueçam aquele modelo de alfândega e pensem somente numa fronteira que só tem marcos. Aquilo funciona fácil, mas você também pode ignorar. Alguém pode, por exemplo, ter tirado alguns marcos (estão entendendo?). É aí que eu quero mostrar para vocês o que interessa pensar em relação ao borderline do ponto de vista da clínica. O borderline carece de demarcações, de delimitações. O que acontece com isso? Ele mesmo não sabe de que lado está. Ele procura os seus marcos – não os encontra. Encontra os de outra pessoa – são movíveis ou removíveis (dependendo do que o parceiro topa). Ele os trespassa, repassa, remarca, mas, no fundo, acontece com ele o que acontece com a gente quando a gente vai para essa fronteira de Santana com Rivera: olhando aquilo, eles não significam nada. São arbitrários, são de brinquedo, não têm realidade.
Mas a vida da gente tem. E no traspassamento dessas fronteiras, no remarcar dos marcos, no infligir as leis de quantos países encontra e quantas pessoas se testa, o border recebe suas respostas semialeatórias, mas infelizmente não na forma de balizamentos, porém de penas, de prejuízos, de dolos, de cicatrizes e sempre e principalmente de mais e mais culpas, que parece que não lhe pertencem. O border tem suas fronteiras fluidas dispersas entre raios, ao sabor das nuvens...
Carlos Mario Alvarez
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