Nós sofremos uma série de desorientações durante a vida, desvios de caminhos, desentendimentos, mal entendidos. Por mais que a gente faça esforços para organizar, para entender, nunca conseguimos. Nunca conseguimos entender tudo totalmente, nunca estamos plenamente satisfeitos. O ser o humano não é um objeto estanque, não é um objeto inanimado. O ser humano é um objeto animado, quer dizer que ele tem animus, ele tem alma. E a alma é alguma coisa que vaga e que tem pleitos, tem carências, tem buscas. Nós não estamos numa situação de zero, ou de nada, uma vez que nós estamos na pulsação, estamos pulsando. Estar pulsando significa produzindo, e produzindo significa que a gente sai do lugar, que não somos estacionários, que não estamos parados. E porque não estamos parados, estamos em movimento; e estar pulsando, em movimento, significa que estamos inquietos; tem isso, nós estarmos geralmente inquietos. Por mais que estejamos contentes, por mais que estejamos satisfeitos com algumas coisas, outras coisas não estão tão legais e, às vezes, está tudo um horror, tudo uma droga. Está tudo um verdadeiro inferno. E nessas horas nós podemos até nos desesperar ou podemos pedir ajuda, o que é melhor, para tentar se organizar.
E nós sabemos que todo mundo, de alguma maneira, atravessa momentos mais ou menos angustiados. A angústia não é uma doença, não é uma patologia, a angústia é o afeto em estado bruto, é o afeto na sua nascente, é o afeto flutuante, é afeto querendo alguma coisa, é a pulsação sem o encontro que deixe ela mais organizada. Então, nós somos seres de angústia. E o que é a angústia nesse sentido? Ela é um combustível, ela é combustão. A angústia é ruim ou boa? Nem uma coisa nem outra. A angústia pode fazer sofrer, mas a angústia é o que faz, por exemplo, eu criar um projeto para mim. É eu sair da minha zona de conforto. A angústia é o que me faz conhecer uma pessoa e achar que ela vai construir algo legal comigo. Eu fazer uma parceria; eu propor uma novidade a mim mesmo; eu começar um esporte novo; eu tentar uma habilidade. Quer dizer, angústia é vida. As pessoas têm uma ideia meio errada de achar que a angústia é machucado, ferida ou doença. A angústia não é “dodói”. O que dói é o peito ardendo, é a sensação de vazio que toma conta, ou até de desespero. É por isso que muitas vezes as pessoas têm recursos como os ansiolíticos, como a própria terapia, as análises que ela pode fazer; e vejam que, quando fazemos um contraponto à angústia, um contramovimento, geralmente conseguimos uma coisa que valha à pena. É a contra-angústia: qualquer movimento que a angústia requeira para fazer valer-se, de si mesma, mas, dessa vez, a favor do sujeito, do indivíduo, que é você mesmo.
Carlos Mario Alvarez
Conheça o conteúdo do curso Como atravessar as angústias?
Se o psicanalista-poeta permitir um comentário do poeta-inpsicanalizado, segue uma produção de 2007, vazada no bar Tio Sam, do Leblon, que parece remeter ao tema (senão ao estilo). Belo texto. O psicanalista escreve "pra frente"; os poetas, mesmo os "pra frente", são só registro vindo à tona, de si em tempos imemoriais. Parabéns. Espero que o texto abaixo possa representar alguns pontos elucidados, aqui, porém, do ponto de vista do angustiado
DESESPERO EM MEIO AO NADA
não há agonia que dure mais que um lapso
Lapso: ...é o tempo da vida Nada dura, nada resiste, somente
a agonia
Quantas noites levantei gelado – gritando para os meus sentidos: e agora?!!!....
e agora?!!!... o que é que eu faço?!....
O …